O conflito de gerações no mundo corporativo é um assunto que merece cada vez mais atenção. Embora profissionais nascidos em épocas diferentes possuam conjuntos de valores e conhecimentos abrangentes, muitas vezes eles apresentam estilos de comunicação contraditórios.
Para o consultor e escritor Sidnei Oliveira, especialista em conflitos de gerações, uma das melhores formas de lidar com essa questão é conscientizar os profissionais de que cada geração agrega um tipo de contribuição e que o mais importante é ter flexibilidade para aproveitar os benefícios dessa união. Veja a entrevista completa:
Como está a relação entre os jovens profissionais de hoje e os veteranos no ambiente de trabalho?
Os jovens de hoje têm uma relação muito mais aberta com os veteranos, contudo não estabelecem essa relação de forma subordinada e hierárquica, mas sim de forma igualitária. Por isso, nem sempre o convívio é tão harmonioso, pois ambos estão competindo pelos desafios e oportunidades. Algumas empresas já se deram conta desse cenário e iniciam programas de integração para promover o encontro de gerações.
E quais os principais conflitos existentes nesta relação entre as gerações?
Não há um embasamento científico para essa resposta, mas o aumento na expectativa de vida, provocado principalmente pelos avanços científicos e tecnológicos, fez surgir um novo comportamento nas pessoas "mais velhas", que é a ampliação da juventude. Todos se sentem, ou pelo menos tentam ser jovens e produtivos. Executivos experientes, que não tiveram oportunidades de fazer uma boa faculdade, estão voltando para a sala de aula, em parte por pressão das empresas e em parte para continuarem se mantendo produtivos e empregáveis. Se avaliarmos com mais profundidade, iremos identificar neste comportamento o melhor exemplo de tentativa de "sobrevivência", diante da ameaça de perder a posição para jovens (mais baratos) que chegam com graduação avançada e intimidade tecnológica, o que confere a geração Y a percepção de um ritmo muito mais dinâmico do que aos mais velhos. A empresa que não lida bem com este cenário perde muito com os conflitos gerados internamente. Perde quando os jovens talentos desistem de confrontar os mais velhos e partem para outra empresa, deixando assim a empresa com um vácuo na formação de seus sucessores, ou perde quando o líder mais velho é desligado ou vai embora levando seu legado de conhecimentos que construiu junto com a empresa.
Falta aos jovens prestarem mais atenção nos ensinamentos dos mais experientes?
Com os veteranos, a maior vantagem é a manutenção do conhecimento tácito, chamado de experiência. Por isso, quando a empresa trabalha as diferentes gerações, permite que os mais jovens possam agregar velocidade e inovação aos negócios, sem que isso represente riscos elevados, pois com a experiência dos veteranos, a companhia pode alavancar seus resultados com segurança.
Em seu livro Jovens Para Sempre, você diz que as gerações estão interligadas e dependem uma das outras. Como se desenvolve esse ciclo?
Divido o ciclo da vida em três dimensões: desenvolvimento, consequências e aproveitamento. O desenvolvimento é traduzido como o apetite por aprender, ou seja, as crianças aprendem mais rápido do que uma pessoa de 60 anos, não porque é mais inteligente, mas porque o seu apetite por conhecer novas coisas é maior.
O ciclo das consequências começa a fazer sentido na vida de uma pessoa por volta dos 17, 18 anos. Quando o jovem começa a ouvir dos pais aquela expressão 'se vira', fase em que se inicia a transferência de responsabilidades. Esse processo pode variar de intensidade dependendo do grau de exposição a que o indivíduo é submetido.
E o terceiro e último ciclo, o do aproveitamento, surge quando a pessoa faz um balanço dos outros dois ciclos: todos os esforços realizados para o seu próprio desenvolvimento, as consequências que teve de absorver até essa fase da vida e todos os resultados alcançados. É nesta hora que o indivíduo decide ficar um pouco mais criterioso e procura usufruir melhor dos resultados.
Estes ciclos se encaixavam muito bem até 30 anos atrás, quando as pessoas morriam aos 60 anos. Hoje, como a expectativa de vida chega até os 80, tudo mudou. As pessoas continuam se desenvolvendo e aprendendo até mais tarde, quando já deveriam estar em idade de pensar em se aposentar. Os jovens estão se preocupando com suas consequências cada vez mais tarde. Exemplo disso é que grande parte deles só entra no mercado de trabalho após completar os estudos na faculdade. Mas, em contrapartida, estão aproveitando cada vez mais cedo, ou seja, a curva do aproveitamento está cada vez maior. E todas essas mudanças alteraram completamente as expectativas pessoais, os relacionamentos e o próprio desenvolvimento dos jovens.
E como é possível haver um convívio harmônico entre as diferentes gerações?
Ainda não existem formulas mágicas e infalíveis, contudo se observa que usar de flexibilidade e inovação são maneiras de criar novos processos que permitem explorar melhor o potencial de cada geração. Uma boa forma de lidar com o conflito é também refinar a comunicação, conscientizando ambos os lados de que há contribuições mútuas que podem e devem ser consideradas. As empresas precisam ainda dar acessibilidade aos jovens. Eles atuam totalmente conectados e cada vez mais por meio de redes sociais. Ampliar o acesso do jovem a estas ferramentas é absolutamente prioritário nos próximos anos.
Fonte: http://abiliodiniz.com.br/lideranca/carreira/
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