Coordenadora da Comissão Mulher Contabilista do CRCSP, quando foi criada em 2004, primeira mulher a assumir a vice-presidente de Registro, Celina Coutinho, hoje diretora do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo, (Sindcont-SP), conta sua experiência como profissional da contabilidade e uma das lideranças femininas mais atuantes do cenário contábil nacional.
Conte-nos um pouco sobre a sua opção pela contabilidade e sua trajetória carreira contábil.
Nos anos sessenta fiz um curso denominado Ginasial de Comércio. Neste curso ensinavam-se noções de contabilidade, o aluno aprendia usar o Plano de Contas, analisar e classificar documentos, fazer lançamentos e escriturar os livros contábeis Razão e Diário. Já naquela época eu era apaixonada pela matéria.
Trabalhei como auxiliar de escritório na Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa); como auxiliar de contabilidade na Companhia de Calçados Clark; sub-contadora na empresa Equipamento Donar Ltda.; em 1974 fui admitida em uma multinacional de origem alemã como encarregada contábil, onde trabalhei 28 anos atingindo o cargo de gerente contábil. Uma vida de muito estudo, aprendizados, conquistas, vitórias e alegrias proporcionadas pela profissão contábil.
Quando a senhora começou a participar das entidades contábeis?
Eu frequentava, e até hoje frequento, um grupo de estudos no Sindicato dos Contabilistas de São Paulo. As reuniões ocorrem às quarta-feira, das dezenove as vinte uma horas, lá o profissional tem oportunidade de aprender e de se destacar, pois suas dúvidas são esclarecidas e ao mesmo tempo tem oportunidade de colaborar ajudando a resolver dúvidas de colegas, é um lindo jogo de aprende e ensina. Fui observada neste grupo e convidada a participar da diretoria do Sindicato, participei no período de 1995 até 2004. Em 2004 fui para o Conselho Regional de Contabilidade como conselheira. Coordenei a comissão Projeto Mulher Contabilista em 2004-2005, participei do Conselho Diretor como vice-presidente de Registro, na gestão do presidente Sergio Prado de Mello, de 2008 a 2009. Em 2011 retornei ao Sindicato, convidada pelo então presidente Victor Domingos Galloro onde estou fazendo parte até os dias de hoje.
Como surgiu o projeto Mulher Contabilista? A senhora poderia nos falar sobre a criação do projeto e os primeiros passos?
Em 1991, na cidade do Rio de Janeiro, durante uma Convenção dos Contabilistas aconteceu o I Encontro Nacional da Mulher Contabilista; o II Encontro Nacional foi realizado em Salvador, durante o XIV Congresso Brasileiro de Contabilidade; em 1999 ocorreu o III Encontro Nacional em Maceió, quando a contadora Maria Clara Cavalcante Bugarim presidia o Conselho Regional de Contabilidade de Alagoas. Em 2002 foi criado o Projeto Mulher Contabilista, idealizado pelo então presidente do Conselho Federal de Contabilidade, Alcedino Gomes Barbosa.
Naquela oportunidade disse o presidente Alcedino: "As mulheres demonstram competência, perspicácia, sensibilidade e rapidez nas tarefas que executam e estão sendo reconhecidas e valorizadas no mercado de trabalho por essas qualidades. Além disso, estão sempre procurando atualizar seus conhecimentos a fim de aprimorarem a prestação de serviços"
A partir da criação do Projeto Mulher Contabilista, em 2002, os Conselhos Regionais passaram a criar a Comissão Projeto Mulher Contabilista. Em setembro de 2003 eu participei de uma reunião da Comissão de Apoio ao Projeto Mulher Contabilista, que ocorreu em São Paulo no Palácio das Convenções do Anhembi, onde se realizava uma Convenção dos Contabilistas de São Paulo.
Em 2004 foi efetivamente constituída a Comissão Projeto Mulher Contabilista de São Paulo, passamos a trabalhar com afinco e grande apoio do Conselho Diretor.
O trabalho das Comissões do Projeto Mulher Contabilista continua, mas foram colhidos bons frutos. Dando destaque apenas ao ano de 2018 temos mulheres na presidência dos Conselhos Regionais de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Roraima, Pará e Paraíba.
Em 2017, foi realizado o XI Encontro Nacional da Mulher Contabilista. Como esse evento contribui para a participação das mulheres na profissão contábil?
Encontros como estes oferecem oportunidades para troca de ideias e experiências, momentos de reflexão e avaliação de conhecimentos. Grande oportunidade de ampliação no mercado de trabalho, pois nestes encontros temos profissionais de todo Brasil.
Qual a importância dessa representatividade feminina no Sistema CFC/CRCs?
Precisamos de mulheres preparadas para presidir os Conselhos, atuar nas entidades de classe e na política partidária. Temos excelentes profissionais, entretanto a parte política é muito importante e oferece uma grande visibilidade, não aprendemos isso de uma hora para outra.
Precisamos exercer o nosso papel com competência e garra, ocupando cada espaço sem medo de desafios.
As mulheres já são maioria nos cursos de Ciências Contábeis no país e estão quase alcançando a marca de 50% de profissionais registrados nos CRCs. Como a senhora analisa esse crescimento?
Não conheço uma pesquisa que informe exatamente o motivo pelo qual as mulheres estão avançando na escolha da profissão contábil, entretanto tenho observado que as entidades de classe estão cada vez mais próximas das universidades, mostrando aos alunos que estão priorizando a qualidade técnica e a valorização profissional. Em tempos difíceis como os que vivemos, a solidez das instituições é sinônimo de força, credibilidade e bons serviços prestados à comunidade contábil.
Hoje, o sexo feminino está com "um cotovelo no fogão, um calcanhar no berço, o pensamento no trabalho" Esta frase de Irene Ravache retrata bem o espírito
de luta e determinação da mulher que com seu olhar de 360 graus já enxergou que a Contabilidade é um ótimo curso para obter liberdade financeira e sucesso
profissional. Com seu espírito empreendedor a mulher não deixa passar oportunidades.
Conheço muitas mulheres proprietárias de escritórios de contabilidade com um
resultado incrível, satisfação nota 10 dos clientes. As dificuldades são enormes, mas existem formas de se conciliar todas as
tarefas, habilidade esta que a mulher cumpre muito bem.
O que significa termos uma mulher, a presidente Marcia Ruiz Alcazar, à frente do maior Conselho Regional de Contabilidade do país?
No dia 6 de agosto de 2004, na sede do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, realizamos o primeiro encontro da Mulher Contabilista "Criando Laços". Palavras do discurso de abertura: "... Este lema vem ao encontro dos anseios do Projeto Mulher Contabilista. Nossa comissão tem como objetivo maior atrair, motivar, abrir espaços e levar as mulheres contabilistas aos postos hierárquicos mais altos das entidades da classe que cuidam do prestígio da nossa profissão e que com muito orgulho representamos".
Assistir a posse de nossa presidente Marcia Ruiz Alcazar foi a realização de um grande sonho.
Sempre acreditei em sua capacidade profissional e política, mas confesso que, às vezes, a cortina do medo se aproximava. Não é fácil abdicar de tantas oportunidades pessoais e profissionais para trabalhar em prol de uma coletividade. Nossa presidente é conhecida, admirada e respeitada em todo o Brasil, fruto de seu trabalho e contribuição, participando e coordenando a Comissão CRCSP Jovem, onde certamente inspirou muitos jovens profissionais, participando de palestras, contribuindo em comissões de trabalho e se disponibilizando sempre que chamada a colaborar.
Acompanho sua trajetória desde que entrou no CRCSP como conselheira, sua indicação para o Conselho Diretor foi fruto de trabalho. Mais de setenta anos de criação do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo e agora temos a Marcia Ruiz Alcazar como presidente.
É muito gratificante!
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